Hotel do Farol é uma viagem no tempo

Marcelo Katsuki

Quando o ônibus me deixou no Chapéu Virado e me vi sozinho arrastando a mochila pela orla ensolarada e deserta, me senti num filme. Num primeiro momento, de aventura, por desbravar um lugar desconhecido e paradisíaco. Mas quando percebi que teria de caminhar por 2 km sob um sol escaldante, sem nenhum táxi ou viva alma por perto, vi que poderia virar um filme de terror. Felizmente não.

 

Cheguei perto do meio-dia, o que agravava a situação. Mas a sucessão de paisagens é tão incrível que você vai pulando de sombra em sombra meio hipnotizado. Quando vi, já tava entrando pelo estacionamento do hotel. A pé.

 

O Hotel do Farol fica na ponta da ilha, posição estratégica para receber brisa o dia todo, por todos os lados.  Os quartos da construção original são mais baratos pois são antigos, mas têm uma visão privilegiada. Alguns têm banheiro coletivo, o que não seria um problema já que estava sozinho no hotel, mas como o piso passava por reformas, fui para a torre externa.

 

A história do hotel é bem romântica. Zacharias Mártyres, advogado estabelecido casou-se com uma mulher bem mais jovem e para preservá-la, mudou-se para a ilha, onde todos os dias ela o levava ao porto para trabalhar em Belém –ainda não havia a ponte. Com a morte de Zacharias, dona Adelaide de Almeida construiu o hotel na propriedade do casal, realizando um antigo sonho do marido.

 

Em frente ao hotel fica uma pequena ilha conhecida como Ilha dos Amores. Toda de pedras, até tentei visitá-la durante a maré baixa, mas ela não é lá muito friendly. Desisti.

 

O café da manhã, incluído na diária (que vai de R$ 80 a R$ 160) é como aquele servido na casa de uma tia caprichosa. Tem ovos mexidos, frutas, café coado e o melhor: a tapioquinha de Mosqueiro, macia e enroladinha. Tudo tão caseirinho!

 

Passei boa parte do dia de bobeira na faixa de praia na frente do hotel. Fazia tempo que eu não ficava tanto tempo enfiado na água. Talvez pelo calor ou mais ainda por ser água doce. Mar é lindo, mas me dá coceira, prefiro praia de rio.

 

À noite o jantar no hotel foi outra cena: sozinho no salão, pedi a Refeição Caseira (R$ 25): filhote empanado servido com vinagrete, arroz, feijão e farofinha de suruí. Queria eu um caseirinho assim todo dia lá em casa! Uma delícia.

 

Um passeio pela sala de jantar reservada lá estava o casal na parede: seu Zacharias e dona Adelaide. Não sei se gostei mais do piso, do mobiliário ou da comida. Acho que gostei mesmo é de estar ali sozinho, sem gente por perto gritando. Idade é foda.

 

No final da tarde, o acesso fica turbulento à Ilha dos Amores. Venta muito, é quase dramático.

 

Mas o amanhecer foi lindo. E eu curti essa vista sentado na mureta do meu quarto, sentindo a brisa fresca enquanto o sol subia devagarinho. Uma viagem.

 

Hotel do Farolmapinha aqui
Praça Princesa Izabel, 3295 – Mosqueiro/PA – Tel.: 00/xx/91/3771-1219