Como é feito o espumante da Cave Geisse

Marcelo Katsuki

Fui aprender um pouco sobre a produção de espumantes nacionais e me surpreendi com a qualidade do nosso produto! Compartilho aqui com vocês um pouco dessa experiência.

Nessa bonita paisagem de Pinto Bandeira (RS), próximo de Bento Gonçalves, localiza-se a Cave Geisse, fundada em 1979 pelo chileno Mario Geisse. O enólogo veio ao país em 1976 para dirigir a Moet & Chandon do Brasil e logo descobriu todo o potencial do terroir local.

 

Dos 76 hectares da vinícola, apenas os 23 mais apropriados estão cultivados com vinhas de Chardonnay e Pinot Noir, conduzidas em espaldeiras (essas armações lineares da foto acima) em terrenos de boa altitude, solo com drenagem adequada, boa amplitude térmica e posição solar ideal para a produção dos vinhos.

Além dessa busca dos melhores terrenos e do compromisso com o terroir, o tratamento de pragas também é realizado sem produtos químicos, utilizando uma máquina de jato de ar quente (Thermal Pest Control), técnica desenvolvida no Chile pela empresa Lazo TPC.

 

Nessa vinícola é produzido o Cave Geisse 1998, escolhido pela crítica Jancis Robinson para abrir o Wine Future no final do ano passado, como o grande destaque para espumantes produzidos fora da região de Champagne. Outro importante crítico de vinhos inglês, Oz Clarke, elegeu o Cave Geisse Rosé como um dos seus espumantes favoritos em seu Pocket 2012.

 

Detalhe de corte do terreno basáltico, de origem vulcânica. Essa composição do solo, com camadas de argila e rochas em decomposição propicia a mineralidade ideal buscada pelo enólogo para a produção do seu espumante.

 

Após a colheita, é feita a seleção e o armazenamento em câmara fria. A prensagem é automatizada enviando apenas o suco (mosto) para os tonéis, com dutos específicos para cada tipo de uva.

 

A construção onde se localizam os tonéis e a cave é aberta à visitação e dispõe de uma lojinha  onde se pode comprar os premiados espumantes, além de outras linhas produzidas pela família Geisse, como os vinhos Amadeu e El Sueño.

 

Os tonéis de aço recebem o mosto para a elaboração do vinho base, vinho que ainda vai sofrer a segunda fermentação na garrafa e que fica aproximadamente cinco meses nos tanques.

 

Na visita, experimentei cinco vinhos base: corte Cave Geisse, bem ácido com toque de maçã; Blanc de Blanc, de grande leveza com notas de fermento (e que deve ser lançado ainda nesse ano); Blanc de Noir, bem mais estruturado e também inédito; um corte Terroir, com agradável acidez, praticamente pronto para o consumo; e um corte Cave Geisse Rosé muito elegante, bem estruturado e aveludado. Achei curioso provar os vinhos base; a impressão que dá é de que alguns dariam para ser comercializados nesse estágio.

 

Depois de engarrafado, o vinho é mantido na cave de dois a três anos em baixa temperatura (aproximadamente 12 graus C) para que a levedura se alimente de todo o açúcar. Nessa etapa ocorre a segunda fermentação, agora dentro da garrafa (método Champenoise).

 

Olha as leveduras dentro da garrafa. Com a morte da levedura ocorre a autólise que confere sofisticação e requinte à bebida, diferentemente do método Charmat, onde a fermentação ocorre em tanques pressurizados.

 

Aqui na área de remuage a garrafa é girada todos os dias durante 20 dias com a boca para baixo. No opérculo (uma tampinha de plástico) deve ficar sedimentada toda a levedura morta.

 

Nessa pequena área é realizado o degorgement, que é a retirada do opérculo com toda a levedura. O processo é realizado toda semana, para que o produto fique protegido e em perfeito estado de conservação. E possa seguir limpo para o mercado, sem nenhum sinal de levedura.

 

Aqui na casa de campo da Família Geisse, localizada em meio aos vinhedos, realizamos uma degustação com a linha Cave Geisse Champenoise e um Cave Amadeu.

 

Cave Geisse Brut – 70% Chardonnay e 30% Pinot Noir. Espumante de cor amarelo palha, com perlage fina e persistente. Muita fruta branca além de amêndoas. Na boca é um veludo e muito agradável, provalmente ajudado pelo licor de expedição usado na elaboração.

Cave Geisse Nature – tem a mesma composição do Brut, mas não recebe licor de expedição, o que o torna mais seco mas não menos macio ao paladar. Boa acidez e tostado mais presente.

Cave Geisse Nature Terroir  – 42% Chardonnay, 58% Pinot Noir. 36 meses de autólise resultando em mais corpo, estrutura e evolução. Notas de brioche, aroma marcante de fermentado. Na boca acentua sua cremosidade, tem final agradável e surpreendente.

Cave Amadeu Rosé Brut – 100% Pinot Noir. 18 meses de autólise e 9,0 gr de açúcar deixam o espumante muito fácil de ser apreciado. Ideal para consumido na beira de uma piscina, tranquilamente.

Cave Geisse Brut Terroir Rosé – 100% Pinot Noir. 36 meses de autólise. Tem a mesma graduação de açúcar do Amadeu, mas é muito mais elegante, com mais corpo e estrutura. Aroma bastante frutado, em especial morangos maduros. Ótima cremosidade, perlage fininha e persistente.

 

Meus dois favoritos: Cave Geisse Nature Terroir e Cave Geisse Brut Terroir Rosé. E reparem nessa base de apoio da garrafa que mantém a bebida na temperatura adequada e permite servir sem ter que ficar enxugando a garrafa. Super prática!

 

Os filhos do Mario Geisse, que me receberam em Pinto Bandeira e se empenharam em me explicar todas as etapas que envolvem a produção dos espumantes. Obrigado Rodrigo, Ignácio e Daniel.

Cave Geisse – www.vinicolageisse.com.br
Linha Jansen, s/n – Tel.: 0/xx/54/3455-7461 e 3455-7463
95700-000 – Pinto Bandeira – Região de Bento Gonçalves – RS

Comentários

  1. Bom dia, Xará.

    Você sabe informar onde os produtos da Cave Geisse podem ser encontrados em ão Paulo.

    Obrigado.

    Abraço.

    1. Marcelo, sei que alguns restaurantes possuem na carta de vinhos. Mas sobre venda direta, vou consultar a Geisse e te retorno com os endereços, ok? Abs!

      1. Às vezes encontro na Casa Santa Luzia. Também já visitei a vinícola e adoro os espumantes deles! Um passeio imperdível para quem vai à região vinícola do RS.

  2. Não tenho por hábito deixar comentários em blogs, mas tive que abrir uma exceção. Seus textos são deliciosos (nhan, nhan) e estou adorando acompanhá-los. Parabéns!

    1. Obrigado, Daniela! É sempre bom receber um elogio assim, rs!
      Abs!

  3. Belo trabalho … Tenho adquirido espumantes nacionais já há algum tempo e me surpreendido favoravelmente cada vez mais. Tem como nas próximas matérias divulgar os preços, mesmo que aproximados? … Abs, Leodir Rossi

    1. Leodir, no site da loja da Cave Geisse tem os preços dos packs com 6 unidades. Os preços que vi lá na lojinha da cave eram um pouco mais baixos.

  4. que beleza de texto; será que desta vez
    consegui aprender muitas coisas sobre vinhos?
    obrigadão marcelo katsuki.
    parabens pela maravilha do texto.

  5. Parabéns!!!bacana tudo que vi, adorei acompanhar esta matéria …

  6. Parabens!!! Bacana tudo que vi, adorei acompanhar esta matéria …

  7. Quando estiver ai vou experimentar, eu adoro brut e rose, mas todos dizem que e coisa de mulher..enfim eu adoro..e quando nao estou no Brasil, minha filha se encarrega e experimentar suas dicas e me dizer se gostou..adoro suas dicas,seu blog, vejo sempre no face e aqui tambem..

    1. Obrigado, Marilia! Rosé deixou o segundo escalão, né? Hoje é apreciado e tem muita qualidade. Adoro. Abs!

  8. Amigo meu filho quando trabalhou no Rio Grande, visitou esta vinícola e veio surpreendido, tamanha beleza e a qualidade dos espumantes, adorei esta matéria, parabens.

  9. Onde encontrar Cave Geisse: No centro de São Paulo, R. 7 de Abril 264 Adega Central.

  10. Os irmãos Daniel, Ignácio e Rodrigo são muito competentes no que fazem, seguindo a sina del padre Mario. A tecnologia TPC que descreves confere uma qualidade quase única no mundo nos produtos da Vinícola Geisse.

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