Casa do Porco surpreende com menu sem porco
Pode parecer inusitado que o chef Jefferson Rueda lance o primeiro menu de temporada da Casa do Porco Bar sem um porquinho nos 12 pratos do serviço. Mas foi uma forma espirituosa de homenagear o personagem-tema da casa, que passeia pelo menu se divertindo às custas dos outros animais, servidos na degustação. As ilustrações, belas e pitorescas, foram feitas pelo Gustavo Duarte.
A proposta do chef é “contar a história do entorno do porco, falar do seu ambiente e hábitos alimentares”. Ao longo do serviço aparecem momentos lúdicos, como um sarapatel servido dentro de um ovo em meio a um galinheiro e rola até um piquenique, com língua curada servida com kombuchá de beterraba! O resultado é espetacular, surpreendente, emocionante. O melhor menu que já provei na casa.
O cardápio impresso não traz os pratos, que são “carimbados” nas páginas ao longo da degustação. Uma forma inovadora de descrever os pratos sem cansar o comensal com explicações muitas vezes cansativas.
O menu começa com a seção “Acepipes”, e o cardápio recebe três carimbos: “Jaca + jaca + jaca”, “Pariparoba (erva) + Castanha do Pará + Cambuci” e “Palmito de taboa + Amendoim”. São três petiscos muito distintos, com uma riqueza de sabores que vai se revelando a cada mordida. Até quem não gosta de jaca, se encantou!
Na sequência, a Festa no Galinheiro traz um sarapatel com creme de café servido em um ovo, um snack de milho com quiabo e pipoca e um naco de abóbora com repolho e alho fermentado. Tudo disposto em um microgalinheiro feito por um amigo do chef, de São José do Rio Pardo, sua terra natal.
Momento do piquenique, com um delicioso pão artesanal com ervas, língua curada e mangada, servidos com kombuchá de beterraba, um “refrigerante caseiro” e cachaça Da Lage.
A salada mais parece uma sobremesa. “Horta, Pomar e Currar” vem com beterraba, amora, esferas de azeite, um surpreendente soro de leite e ervas frescas.
“O Porco foi Pro Brejo” traz lambari com batata doce e uma gotinha de missô.
Ainda no “brejo”, temos rã servida com um melado de tamarindo e fios de bambu com ovas e pó de alga nori.
“Chora Bananeira” mistura banana, umbigo de bananeira (que lembra um palmito, mas um pouco mais amargo) e gema curada para compor um prato instigante e delicioso.
O cupim servido com molho de jabuticaba, agrião e quirela de arroz fecha a sequência salgada com os sabores lá em cima; a vontade é de que o menu não termine.
Mas as sobremesas da Saiko Izawa, patissière da casa, são um espanto de originalidade, sabor e criatividade. Olha essa sopa de mandioquinha com suspiro (telha) de grão-de-bico! Você jura que está comendo um curau.
Sua releitura do Romeu e Julieta é um deleite para os olhos e para o paladar: tomatinhos com goiabada e um falso macarrão com fios de catupiry e chocolate branco. Delírio!
O “Viva Sanzé” (R$ 190 por pessoa) foi servido apenas durante o jantar e é uma pena que tenha encerrado sua temporada ontem! Esse menu certamente vai deixar saudades.