A onda do vermute

Marcelo Katsuki

Uma coisa que sempre me pega na Espanha é o hábito do vermute no fim de tarde. Pode ser antes do almoço também. Outro dia encontrei a Ale Blanco, da Vogue, e falamos a respeito –ela também adora a bebida e o ritual. E é tão simples, basta uma bom gelo e uma casca de laranja. Tá pronto.

Aqui não temos esse costume, mas usamos muito o vermute em drinques clássicos como o Negroni, o Manhattan e o Dry Martini –nesse último, o vermute seco. Outro dia provei um Martinez no Frank Bar (R. São Carlos do Pinhal, 424 – Bela Vista, São Paulo): “esse é o pai do Dry Martini”, contou Spencer Amerano, bartender da casa. Levava vermute tinto doce, veja só.

 

Tomei outros drinques, inclusive um feito com carvão chamado Ataraxia! E conheci o vermute Fernando de Castilla, que está chegando ao Brasil importado pela Casa Flora. Degustei do jeito que mais gosto: com gelo e laranja. Esse vermute é bastante aromático e é feito com Jerez, por isso tem uma complexidade distinta e traz um sutil amargor que contrapõe ao dulçor da bebida. Fantástico!

Em tempo: o Frank Bar está lançando nessa semana uma nova carta de drinques, dessa vez inspirado no minimalismo japonês. Spencer criou algumas receitas e também fez algumas releituras, como a do Algonquin Cocktail e do Bloodhound, ambos utilizando vermute.

 

Voltando à Espanha, existem muitas casas dedicadas à bebidas, as chamadas ‘vermuterias’. Esse belo exemplar acima foi degustado em Barcelona, acompanhado de um aprazível sol de fim de tarde. O local chamava-se Vidrios y Cristales, uma ‘bodega’ localizada entre o bairro gótico e a Barceloneta.

 

Fui conhecer o local com a Dani Dini e a Barbara, duas amigas jornalistas que não dispensam ‘una copita’. De cara, adoramos o décor rústico do bar, cheio de enlatados, garrafas e tapas. Lá eles adicionam uma azeitona –imagino que para rebater a doçura do vermute– e disponibilizam água com gás, para você dar uma ‘amaciada’ no drinque, que custa simpáticos 2 euros.

Falando em amaciar, já existe até o vermute tônica, uma versão do drinque que não sai de moda e que troca o gim pelo vermute, com um resultado mais suave: tem frescor mas também complexidade.

 

Outro lugar na Espanha onde degustei alguns vermutes foi o Entrecopes, na histórica Tarragona, cidade que fica a uma hora (de trem) de Barcelona. O bar fica em uma das ruelas da cidade antiga, onde estão as ruínas dos tempos do domínio romano.

 

No Entrecopes, sai a laranja mas capricham na quantidade de azeitona. O vermute é um aperitivo, então cada um dá o seu toque pessoal, nada mais justo.

Uma coisa que muita gente não sabe, é que o vermute precisa ser conservado na geladeira. Como é um vinho infusionado, vale até utilizar aquelas tampas com vácuo (vacu vin), para evitar que a bebida oxide. Mas alguns bares ainda deixam a garrafa na prateleira, depois de aberta. O vermute perde suas características e vira um vinagre em pouco tempo. Fica a dica.

Fotos: Marcelo Katsuki/Folhapress