Maconha e outras tendências na gastronomia em 2019

Marcelo Katsuki

Se no ano passado, a americana Baum + Whiteman, consultoria de alimentos e restaurantes com sede em Nova York, previu maior uso de bebidas alcoólicas nas sobremesas, nesse ano a aposta é mais ousada: a cannabis deve iniciar sua invasão na gastronomia —pelo menos onde seu uso é legalizado. A Lagunitas, da Heineken, já vende na Califórnia o Hi-Fi Hops, uma água com gás com gosto de cerveja e com uma dose modesta de THC (Tetrahidrocanabinol), um ingrediente psicoativo da maconha.

“A AB InBev, maior fabricante mundial de cerveja, está formando uma parceria com a Tilray, empresa canadense de maconha, para pesquisar bebidas contendo canabis, no mais recente sinal de que os grandes fabricantes mundiais de bens de consumo estão desenvolvendo interesse pela droga”, publicou o Financial Times.

Em Nova York, a vegana By Chloe vende um bolo de sorvete chamado Mary Jane (foto), que leva chocolate, baunilha e cobertura infusionada com óleo de CBD (Canabidiol), além de granulado verde.

No Brasil, a descriminalização do cultivo de maconha ainda tramita no Senado, mas para uso pessoal terapêutico. Ainda engatinhamos, pelo menos dentro da legalidade.

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E se as estrelas de 2018 foram o lámen e a cozinha coreana —nem precisamos detalhar o fenômeno— em 2019 é a vez do bun (pão chinês cozido no vapor) e da cozinha chinesa. Vocês já devem ter reparado como tem aparecido bun (ou bao, em chinês) nos cardápios —e até casas especializadas, como a Bao Burger, um café vegano no Paraíso, e a Bao Bao Baby, da dupla Yoller e Sae Kim. A cozinha taiwanesa também vem ganhando destaque em Los Angeles e Nova York.

E se a cozinha japonesa não aparece entre as tendências, o Katsu Sando vem honrar sua tradição, nas mais diversas variações. O sanduíche, que apareceu em izakayas por aqui, tem sofrido adaptações, com recheios que vão além da carne: de frango empanado a camarão frito, passando até por mortadela. Vale tudo, desde que frito, pelo que parece (mas continuo preferindo o tradicional).

A pesquisa também aponta que as pessoas devem comer mais em casa, por conta dos preços, uma notícia dura para os restauranteurs. A automação dos serviços e as novas tecnologias para entrega devem forçar os restaurantes a reduzir suas equipes. Temos que considerar também o crescimento da alimentação ‘plant based’, que teve um avanço considerável em todo o mundo em 2018, e que força muita gente a comer em casa, em função dos poucos restaurantes especializados.

Um formato de restaurante, mais enxuto e com menos encargos, deve ganhar destaque: o “fast casual”. Ele se situa entre um fast food (pelo formato do serviço) e um restaurante clássico (pelo tipo de comida, com chefs experientes e bons coquetéis), com preços mais atraentes, um meio termo entre esses dois nichos. Isso me lembra do formato dos gastrobares, surgidos na década passada.

Alguns cinemas americanos como Alamo DrafthouseCinépolis iPic Theaters estão vendendo comida de verdade (e não apenas snacks), entregues nos assentos (e até mesas) por garçons —como aquelas experiências que já tivemos em alguns cinemas de São Paulo, só que diariamente. Estariam os restaurantes entrando no ramo do cinema ou os cinemas se transformando em restaurantes?

A automação dos serviços segue sua expansão, de pizzas feitas por robôs a limpeza de mesas com braços mecânicos. Por aqui, fazemos reservas usando apps e recarregamos cartões de consumo via mobile. Não é muito mas há iniciativas pontuais indicando um avanço na área.

Algumas cozinhas pouco conhecidas como as do Cazaquistão e do Azerbaijão também devem ser difundidas graças à imigração e também ao movimento dos refugiados dessas distantes culturas por todo o mundo.

O apreço pelo azedo também segue em ascensão. Se o amargor do café, do chocolate, do brócolis e da couve de bruxelas dominaram os últimos anos, vemos agora o azedo e a acidez ganharem espaço graças a produtos como o kimchi, o pho, o ceviche e até o kombucha.

As carnes cultivadas em laboratório devem ser o grande dilema da temporada. O assunto ainda é novo, não há posicionamento nem sobre o seu consumo e sequer um nome para o produto. Os grandes fazendeiros já começaram uma campanha para que esse produto de laboratório não possa ser chamado de “carne”. Logo pensei nos vegetarianos: será que vão adotar essa proteína?

E o décor dos restaurantes deve ganhar mais cores e luminosidade. “O último verão trouxe roupas coloridas e padrões alegres às vitrines das lojas, e isso deve se refletir na restauração. O mundo anda sério demais e a gente já se cansou de salões brancos ou paredes tristes de madeira e tijolos aparentes”, atesta a pesquisa.

Para ler o relatório completo, clique aqui.

Foto: reprodução