Charco tem notável cozinha autoral com menu inspirado pelo fogo
Sempre que alguém me pedia uma indicação de restaurante novo e bacana, eu falava do Charco. Por isso nem fiquei surpreso quando ele ganhou o prêmio de melhor novidade entre os restaurantes no especial O Melhor de São Paulo, publicado pela Folha no último domingo. O lugar é realmente bom.
A cozinha dos chefs Tuca Mezzomo e Nathalia Gonçalves traz referências da culinária sulista, redesenhada com técnica e apuro. O casal tem trajetória semelhante: ambos trabalharam com chefs renomados, como Alex Atala e Rodolfo de Santis. Mas agora imprimem suas identidades, cada um em seu setor: ele nos pratos salgados e ela, nas sobremesas.
O restaurante ocupa uma casinha na Peixoto Gomide, que sofreu uma reforma às avessas: paredes foram descascadas, estruturas foram expostas. O resultado é um ambiente rústico mas confortável –e com muita personalidade.
A carta de drinques também traz criações autorais que merecem atenção. Na foto, o Smoked Old Fashioned (R$ 39) preparado pelo Victor Zucaroni, headbartender da casa, traz Bourbon Woodford Reserve, xarope de tabaco, bitter e tintura de pimenta da Jamaica. Defumado na medida com serragem de caqui! Quer um drinque sem álcool? Vá de Crema de los Dioses (R$ 15) com purê de framboesa, limão siciliano, hortelã e água gaseificada.
A cozinha do Charco é inspirada pelo fogo e todos os pratos passam por um dos três tipos de grelha: uma parrilla de grades móveis, um yakitori e um forno combinado com lenha que assa enquanto defuma.
Comece pelo cotechino (R$ 22), um tipo de linguiça italiana feita de carne, gordura e pele de porco cozida. Vem servido sobre pão brioche caseiro, picles de mostarda e cebola roxa, que conferem gostosa acidez.
Mas não deixe de provar a costela na lenha (R$ 39), uma costela do dianteiro, que tem a carne mais marmorizada, e que é defumada e assada por 12 horas. Chega macia e com aquele perfume. A dica é comer com as mãos, sem cerimônia, pingando o limão siciliano.
O arroz pegado (R$ 74) traz polvo macio e mexilhão com cebola roxa sobre o arroz, que tem seu preparo inspirado no arroz socarrat, tradicional na Espanha. O tostado dá um sabor especial mas é necessário algum empenho para soltar os grãos que se prendem no fundo da panela.
A chuleta com vegetais na brasa e chimichurri (149) utiliza uma técnica chamada selagem inversa, tradicional no sul, onde a carne começa sendo assada longe do calor, para depois ser selada. Por isso o corte apresenta uma coloração mais uniforme, com a gordura derretida. Para ser compartilhada.
Uma das sobremesas da Nathalia: cacau e suas variações (R$ 26) traz sementes de cacau caramelizadas, bolo de chocolate branco, sorvete de mel de cacau, caramelo, mousse de chocolate amargo e farofa de cacau em pó. Uma inspirada criação.
Fui surpreendido pelo sorbet de butiá (R$ 24), fruta típica do sul, que vem sobre uma casca de laranja confitada e ainda traz creme de iogurte e caramelo de maracujá. Uma sobremesa doce, amarga e cítrica, mas que imprime o sabor característico do coquinho.
Os chefs gaúchos Nathalia Gonçalves e Tuca Mezzomo.
Fachada da simpática casinha da Peixoto Gomide, com mesas na área externa. O piso superior conta ainda com uma sala privativa, para pequenos eventos, mas que pode ser usada também em dias de grande movimento.
Charco Restaurante – mapinha aqui
Rua Peixoto Gomide, 1492, Jardim Paulista – Tel. (11) 3063-0360
Fotos: Marcelo Katsuki/Folhapress. Preços em junho de 2019.