Murakami volta à cena em restaurante minimalista com menu dinâmico

Marcelo Katsuki

“Eu estava carente, com saudade dessa interação”, confessa um Murakami animado com a estreia da nova casa, que leva seu nome. O logotipo traz um ideograma que significa “o nada, o vazio, porque aqui tudo muda diariamente, nosso cardápio parte do nada”, explica. Os pratos são elaborados em função dos melhores ingredientes do dia, o que pode não soar como uma novidade, mas se transforma em um grande desafio para o alto nível de sua cozinha.

A casa tem ambiente minimalista do arquiteto Edilson Fujisawa e é marcada por um longo balcão onde se acomodam 12 clientes por vez. Há dois serviços, um às 18h e outro às 21h, portanto a pontualidade é imprescindível.

 

Murakami diz sentir-se em casa. Apesar do ambiente limpo e cheio de vazios, o contato direto com o cliente torna a relação muito mais íntima. Não há garçons, o serviço é todo feito pelos cozinheiros, pelo sommelier e pelo barista. Eurico, que já trabalhou com o chef nos tempos de Kinoshita, recebe os clientes no pequeno lounge da entrada.

 

Na cozinha, aberta para o balcão, trabalham Murakami, seu filho Jun e sua esposa Suzana. O cardápio de seis tempos  muda diariamente e no ato da reserva deve-se informar as restrições alimentares. Custa R$ 300 reais, valor que sobe para R$ 550 com os pratos harmonizados pelo sommelier Ricardo Santinho, que faz um trabalho admirável.

 

Abrindo a sequência, um instigante prato com ovas de ouriço, ovas de salmão, limão e o peculiar shirakô, um fluido seminal de pargo de gosto até delicado –pelo menos para as minhas expectativas. O tempero também é bastante sutil, já que os ingredientes trazem um salgado natural.

 

O segundo prato trazia natto, a soja fermentada e babenta, servida com cebolinha, gema curada e atum temperado com shoyu e óleo de gergelim. Tudo muito equilibrado.

 

O terceiro e bonito prato apresentou um salto de sabor, marcado pelo sal das minialcaparras e do missô presente na marinada do pargo, que chega envolto em finas fatias de rabanete roxo. O azeite Olibi imprime mais sabor com seu toque picante e de leve amargor.

 

O sommelier Ricardo Santinho e o barista Ricardo Matsuoka, também responsável pela coquetelaria da casa.

 

A vieira chega envolta em um sedoso molho de missô com alho e um toque de pimenta, e vem coroada com um hokkigai, molusco de sabor adocicado. A ciboulette branqueada lembra nirá, a cebolinha silvestre, e completa o prato com cor e sabor.

 

O tonkatsu de porco preto com mostarda e maionese japonesa chega banhado de molho preparado na casa. O tomate e a couve-flor tostada conferem frescor e texturas.

 

O chef pode fazer surpresas, dependendo dos ingredientes disponíveis. Nesse dia fomos presenteados com um miniteishoku de beijupirá grelhado com kale, aspargo, servido com missoshiru, picles e arroz branco. Mais caseirinho, impossível.

 

Vista do salão por outro ângulo, próximo ao fogão e às grelhas.

 

Suzana é a responsável pela sobremesa: seu mochi recheado com chocolate já é um clássico, e aqui pode aparecer com um blend de chocolates ao leite e meio amargo, ou ainda com o chocolate ruby, de cor rosada.

 

Detalhe do mochi com o recheio de chocolate, aqui harmonizado com um vinho de colheita tardia português, Aneto, rico e potente.

 

Fachada do restaurante na alameda Lorena, nos Jardins.

O chef encerra o serviço declamando um poema e entretém a plateia. Poderia ter sido uma ária de ópera, uma Ave Maria de Gounod, como ele gosta de cantar. Os comensais aplaudem, mostrando que também estavam carentes desse momento. Murakami está de volta.

Murakamimapinha aqui
Rua Alameda Lorena, 1186, Jardim Paulista, telefone: (11) 3064-8868
Abre de segunda-feira a sábado, das 18h às 23h
É necessário fazer reserva: murakami.net.br